30 de Novembro de 2020 por Luana Ackaouy
Hoje vivemos em um mundo de globalização e consumo de massa. Nós, como sociedade, internalizamos que felicidade e abundância vêm de mãos dadas.
Como resultado, muitas vezes nos encontramos vivendo em excesso – querendo mais, pensando maior. Casas maiores, cidades maiores, hotéis maiores, salários maiores e orçamentos maiores. Mas e se devêssemos pensar em algo menor?
Minimalistas em todo o mundo há muito defendem essa filosofia. Sua última tendência, as tiny houses (pequenas casas), tem tomado o mundo de assalto e tem feito todo mundo falar, desde Airbnb e Ikea até Amazon e Netflix.
Menos é mais
O movimento das pequenas casas remonta aos anos 1970, mas foi somente após a crise financeira de 2008 que o movimento começou a ganhar popularidade. Casas minúsculas geralmente têm entre 30 e 120 metros quadrados e vêm em uma variedade de formas e tamanhos: cabines portáteis sobre rodas, contêineres, reboques.
Os pioneiros desse estilo de vida estavam originalmente localizados nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália. No entanto, o movimento decolou rapidamente ao redor do mundo e agora pode ser encontrado em países como Reino Unido, França, Líbano, Havaí e Índia – evoluindo para um fenômeno mundial.
Mais do que um estilo de vida, “viver minúsculo” é um movimento social, uma filosofia. O espaço limitado o obriga a dispensar quaisquer bens materiais desnecessários e o encoraja a olhar para dentro. O foco muda de “ter” para “ser”.
Downsizing
As vantagens do downsizing (diminuir o espaço em tradução livre) incluem liberdade e desemaranhamento. E, nesse sentido, menos verdadeiramente é mais: menos desordem e espaço permitem mais tempo e flexibilidade. A redução da manutenção e dos encargos financeiros necessários para uma ‘vida minúscula’ se traduz em mais tempo e dinheiro disponível para se envolver em interesses pessoais e desfrutar de coisas simples.
Isso é ainda mais pronunciado para pequenas casas construídas sobre rodas. A mobilidade adicional é perfeita para uma mudança nas circunstâncias, pois pequenas casas podem ser rapidamente removidas e realocadas, sem deixar vestígios de sua passagem. Além disso, elas normalmente podem ser colocadas em propriedades próprias, mas não autorizadas para construção, uma vez que geralmente não requerem licenças de construção.
Um mundo de problemas e um estilo de vida de soluções
Com níveis crescentes de poluição, dívidas, estresse e problemas de saúde física e mental em todo o mundo, a vida minúscula parece responder a muitos dos problemas de hoje. O estilo de vida promoveu uma menor pegada de carbono e níveis mínimos de consumo, ao mesmo tempo que permitiu que os indivíduos se reconectassem com o meio ambiente.
Uma Solução Sustentável
A sustentabilidade é um princípio fundamental na filosofia das pequenas casas, uma vez que são propositadamente construídas com materiais renováveis e ecologicamente corretos. Este é um elemento-chave para o sucesso crescente das pequenas casas.
À medida que as pessoas se tornam mais conscientes dos desafios ambientais que o mundo enfrenta hoje, os hábitos de consumo tradicionais estão mudando para compras mais conscientes. As tiny houses oferecem a possibilidade de viver de forma totalmente autossuficiente e sustentável com o uso de madeira reciclada, água da chuva filtrada, painéis solares e resíduos de cozinha e banheiros compostos.
No geral, as pequenas casas requerem muito menos energia para manter, construir e aquecer ou resfriar – reduzindo o consumo de energia dos proprietários de casas pequenas em 45%. Além disso, o espaço limitado restringe os hábitos de armazenamento e consumo que, por sua vez, reduzem o desperdício.
Com o aumento do nível do mar e o ambiente em constante mudança, tiny houses podem oferecer uma solução móvel atraente, pois podem ser facilmente movidas para áreas menos vulneráveis.
Uma Solução Financeira
Em todo o mundo, as pessoas lutam com os custos da habitação. Nos Estados Unidos, muitas famílias gastam até a metade de sua renda construindo um teto sobre suas cabeças. Isso geralmente significa que os proprietários precisam trabalhar por pelo menos 15 anos para poderem pagar por uma casa de ‘tamanho normal’. Da mesma forma, no Reino Unido, a crise imobiliária ainda representa uma grande preocupação para os proprietários de casas, com os preços das casas continuando a subir nos últimos quatro anos.
As casas minúsculas também permitem que os indivíduos mantenham o custo geral de vida baixo devido à sua manutenção reduzida, escapando do fardo financeiro muitas vezes trazido pela habitação. Tiny living (viver pequeno), portanto, fornece uma solução viável para evitar altos níveis de hipotecas e dívidas.
Uma solução sócio-política
Outra solução menos comentada trazida pelo movimento das pequenas casas é seu impacto social e de alívio à crise. Casas minúsculas podem ser uma ferramenta valiosa para ajudar os sem-teto ou como abrigo de emergência.
A Opportunity Village em Eugene, Oregon, é apenas mais um exemplo de abrigos de casas minúsculas que combatem a falta de moradia. O vilarejo é composto de 30 casinhas de mais ou menos 24 metros quadrados, além de cozinha compartilhada, banheiros e espaço comunitário. Da mesma forma, um artista em Oakland, Califórnia, reciclou lixo e fez pequenas casas vibrantes para tirar os sem-teto das ruas e fornecer-lhes algum abrigo. Esse padrão é, de fato, recorrente com indivíduos em todos os Estados Unidos que desejam resolver o problema dos sem-teto por meio de pequenas comunidades de casas, de Los Angeles a San Jose.
Tiny houses também aparecem como uma resposta rápida a catástrofes naturais, oferecendo às vítimas um abrigo temporário confortável. Isso permitiu que muitos cidadãos recuperassem abrigo no passado, como vimos após o furacão Katrina de 2005 ou as enchentes de 2016 na Virgínia Ocidental.
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Tiny houses talvez não sejam para todos
Com isso dito, viver uma vida minúscula não é para todos. Reduzir e adotar uma filosofia como a de Marie Kondo (uma especialista em organização pessoal) não se adapta a todos os estilos de vida e pode parecer muito assustador. Tiny houses, como tudo, vêm com seu quinhão de desvantagens – incluindo complicações com estacionamento e seguro, capacidade de hospedagem limitada e trabalho legal, pois às vezes podem cair em áreas cinzentas. Os membros da comunidade também mencionam que, apesar das pequenas casas serem fáceis de manter, elas também ficam sujas ou bagunçadas rapidamente.
No entanto, uma coisa é certa sobre a vida minúscula: ela oferece uma perspectiva. E se maior nem sempre for melhor? Nossa sociedade muitas vezes é levada a acreditar que o luxo é adquirido por meio de dinheiro e objetos materiais, quando na verdade a coisa mais preciosa que possuímos é o tempo. E, nesse sentido, talvez a vida minúscula seja um luxo.
Luana Ackaouy acabou de se formar em Psicologia pelo King’s College London. Ela é libanesa e italiana. Seus fortes interesses em sustentabilidade e escrita a trouxeram para este estágio editorial hoje.
Este artigo foi publicado originalmente em IMPAKTER.COM. Leia o artigo original.
IMAGENS:
Destaque: por photosforyou de Pixabay
2 – Tiny house de madeira sobre rodas: por milivigerova de Pixabay
3 – Pequena casa verde sobre rodas: por nevillevlogz de Pixabay
4 – Tiny house de madeira rústica com chaminé: por winniec de Pixabay