Eu POSSO mudar

Vinho e saúde: possíveis benefícios do consumo de vinho

Vinho e saúde

Já faz algum tempo que pesquisadores estudam os possíveis benefícios do consumo de vinho para a saúde. Será que existe mesmo algum benefício? Se existe, quais são? E qual seria o consumo ideal para se beneficiar?

Os humanos bebem há milênios. Nas últimas décadas, diante de inúmeras pesquisas e estudos, o vinho, em particular, ganhou destaque por possíveis benefícios a saúde. Será que existe alguma conclusão confiável a respeito? Quais seriam os benefícios do consumo do vinho para a saúde?

A relação entre vinho e saúde é antiga

Comprimidos da Suméria e papiros do Egito que datam de 2200 a.C. incluem receitas de remédios à base de vinho, tornando o vinho o mais antigo remédio documentado feito pelo homem.

Desde a Grécia e Roma antigas até a Idade Média, as pessoas usavam o vinho para tudo. Ele matava bactérias na água potável, agia como um auxílio digestivo, limpava feridas, aliviava a dor e curava a letargia.

Hipócrates, o pai da medicina clínica e molecular, defendeu os benefícios do vinho para a saúde, assim como os reis babilônios, médicos persas e monges católicos. O Talmud judaico afirma claramente:

O vinho é o principal remédio: onde há falta de vinho, os remédios se tornam necessários.
Talmud judaico

Nos séculos 19 e 20, no entanto, pesquisas médicas e mudanças de atitude em relação ao álcool colocaram esse status em dúvida. No entanto, desde o início dos anos 1990, as pesquisas científicas sobre os benefícios do vinho para a saúde proliferaram.

Nas últimas décadas o vinho ganhou destaque por possíveis benefícios a saúde.

Composição do vinho

Por definição bioquímica, o vinho consiste em uma bebida proveniente da fermentação alcoólica dos açúcares presentes nas uvas pelas leveduras e, em certos casos, por bactérias láticas.

De modo geral, independentemente do tipo de vinho, os seus principais componentes são: água, etanol, açúcares, minerais (potássio, fósforo, magnésio, cálcio, sódio, silício, ferro, manganês, zinco, cobre, níquel, molibdênio, cromo, cobalto), vitaminas (ácido pantotênico, nicotinamida, vitamina B2, B6, biotina, ácido fólico), ácidos orgânicos (lático, tartárico, acético, málico entre outros), aminas bioativas (histamina, beta feniletilamina, tiramina), e traços de proteínas.

Os compostos químicos chamados polifenóis são a chave para os benefícios do vinho à saúde. Como taninos e flavonoides, os polifenóis também fornecem estrutura, textura e sabor ao vinho.

Sobre os polifenóis:

Resveratrol

O resveratrol é o polifenol mais benéfico para a saúde. As uvas roxas (escuras) têm algumas das maiores concentrações na natureza, junto com o azeite. É uma substância natural que está presente em mais de 70 espécies vegetais, que faz parte de um conjunto de compostos denominados fito alexinas, produzidos pelos vegetais com a função de protegê-los de estresses causados por fatores bióticos (fungos patogênicos) ou abióticos (radiação ultravioleta).

A utilização de resveratrol já ocorre, há bastante tempo, nas medicinas chinesa e japonesa para o tratamento de problemas de pele supurativos, gonorreia, pé-de-atleta, hiperlipidemia, arteriosclerose, doenças alérgicas e inflamatórias. Sua atividade anti-inflamatória foi demonstrada através da supressão de edema que chegou a ser maior ou similar do que de algumas drogas anti-inflamatórias clássicas utilizadas na alopatia, como a fenilbutazona e a indometacina, ainda com uma vantagem em relação a elas: parece ser menos tóxico às células sadias. Essa ação deve-se à sua capacidade de inibir a formação de uma das principais enzimas mediadoras do processo inflamatório.

Taninos

Um dos principais componentes do vinho é o tanino, polifenol natural encontrado em plantas, sementes, cascas, madeira, folhas e cascas de frutas. Os polifenóis são macromoléculas feitas de fenóis: ligações complexas de moléculas de oxigênio e hidrogênio.

O termo “tanino” vem da antiga palavra latina para curtidor e se refere ao uso da casca de árvore para curtir peles. O tanino está presente nas cascas, sementes e caules das uvas. Também é encontrado em barris de carvalho.

Existe um estudo sobre os efeitos do tanino e da oxidação do vinho e do chá no corpo. Nos testes, o tanino do vinho resiste à oxidação, enquanto o tanino do chá não. Em outras palavras, o tanino do vinho é um antioxidante, o que sugere que são benéficos a saúde.

Dores de cabeça após consumo de vinho tinto às vezes são atribuídas aos taninos, mas não existe uma definição ou constatação sobre essa questão. De qualquer forma, se dores de cabeça são frequentes após o consumo de vinho tinto, certifique-se de não estar se excedendo no consumo, ou teste consumir mais vinho branco que é pobre em tanino.

O tanino está presente nas cascas, sementes e caules das uvas.

O Paradoxo Francês

Um fato que despertou a atenção da comunidade científica foi a relação entre os hábitos de saúde adotados pelos franceses, pois estes, apesar de apresentarem altos índices de sedentarismo, tabagismo, alto consumo de gorduras saturadas e os maiores níveis de colesterol quando comparados com outras populações, demonstram menor incidência de doenças cardíacas.

Essa anomalia epidemiológica é conhecida como o “Paradoxo Francês”, pesquisa do cientista de Bordéus, na França, Serge Renaud. Em 1991 a pesquisa de Renaud foi apresentada em um programa de notícias Americano. A transmissão traçou paralelos com as dietas americana e britânica, que também continham altos níveis de gordura e laticínios, mas que apresentavam alta incidência de doenças cardíacas. Uma das teorias propostas por Renaud na transmissão, era que o consumo moderado de vinho tinto era um fator de redução de risco para os franceses, e que o vinho poderia ter ainda mais benefícios para a saúde a serem estudados. Após a transmissão, as vendas de vinho tinto nos Estados Unidos aumentaram 44% em relação aos anos anteriores.

A vitalidade francesa foi atribuída ao valor cultural de beber 2 a 3 copos de vinho por dia. As pessoas que vivem mais tempo na França residem na região de Gers, no Sudoeste, onde alimentos com alto teor de saturação, como foie gras, salsicha, gordura de pato para cozinhar, cassoulet e queijo, são pratos padrão. Os tintos locais são ricos em taninos. Os taninos desses vinhos não apenas raspam a gordura do palato e do trato digestivo, mas são ricos em procianidinas saudáveis ​​para o coração.

Valor nutricional do vinho

O vinho é uma razoável fonte de energia, com baixos teores de vitaminas hidrossolúveis e minerais. O açúcar contribui muito pouco para o conteúdo energético do vinho (exceto os vinhos licorosos, doces e suaves), que se deve essencialmente ao etanol na taxa de 7,1 kcal/g.

Um litro de vinho seco contendo de 60 a 150 gramas de álcool por litro fornece de 400 a 1000 kcal. Ao contrário dos carboidratos ou gorduras que podem ser armazenados no corpo como glicogênio e triglicerídeos, o álcool não precisa ser digerido, podendo ser absorvido diretamente pela parede intestinal.

Os vinhos tintos são mais calóricos que os brancos, assim como têm quase o dobro de potássio.

Calorias do vinho

O vinho é uma das bebidas alcoólicas menos calóricas que existe. O valor calórico de um vinho vai variar de acordo com sua composição de açúcar residual e teor alcoólico. Em média, uma taça de vinho seco contendo cerca de 120ml, possui mais ou menos 100 calorias.

Segundo a Revista Decanter, referência do Reino Unido especializada no mundo do vinho, é possível calcular a quantidade em gramas de álcool de uma garrafa ou taça de vinho com a seguinte fórmula:

Volume (ml) x Álcool (%) x 8 / 1000 = X
(O valor de X deve ser multiplicado por 7 para obter a quantidade de calorias.)

Como exemplo, vamos calcular as calorias de uma garrafa de vinho que costuma ter 750 ml, com teor alcóolico de 13%.

750 (ml) x 13 (%) x 8 / 1000 = 78
78 x 7 = 546 calorias

Benefícios da ingestão de vinho

Conforme revisão de 2018, apresentada por profissionais da Universidade do Oeste de Santa Catarina, sobre os benefícios e malefícios da ingestão de vinho, entre outros benefícios apresentados, por conter alto teor de potássio, o vinho exerce função diurética, colaborando para a redução de até 60% do risco de formação de cálculos urinários.

Ainda conforme o artigo, há evidências de que o vinho também pode diminuir a incidência de úlcera péptica e as chances de formação de cálculos no interior da vesícula biliar, além de reduzir as chances do aparecimento da diabetes tipo 2, da síndrome metabólica e do desenvolvimento da obesidade.

O artigo ainda complementa que apesar de os constituintes químicos estarem presentes nas uvas, foram atribuídos ao vinho os maiores efeitos terapêuticos, sendo que a maior concentração de benefícios parece estar associado ao consumo de vinho tinto e não do vinho branco, lembrando que os efeitos saudáveis do vinho são reforçados por uma dieta equilibrada e exercícios físicos regulares.

A maior concentração de benefícios parece estar associado ao consumo de vinho tinto e não do vinho branco.

Vinho: um alimento funcional

Conforme artigo do Instituto Federal de Santa Catarina, com revisão quanto aos benefícios da ingestão do vinho para a saúde humana, apresentado em fevereiro de 2019 no Congresso Mundial da Vinha e do Vinho, é a riqueza de elementos que tornam o vinho um verdadeiro alimento líquido de virtudes incomparáveis.

Ainda conforme o artigo, estudos realizados em todo o mundo provam que o vinho ingerido em quantidades moderadas contribui para a saúde do corpo humano, sendo o resveratrol o principal constituinte do vinho a conferir benefícios, entre eles a prevenção de doenças cardíacas.

Sua capacidade antioxidante além de estar relacionada à prevenção de doenças cardiovasculares, também possui propriedades anticâncer e anti-inflamatórias. O resveratrol pode ainda inibir a iniciação, promoção e progressão de tumores, a morte celular por estresse oxidativo, a oxidação de lipoproteína humana de baixa densidade (LDL), a agregação plaquetária, o comprometimento da atividade anti-inflamatória, e pode reduzir os efeitos de algumas doenças neurológicas, como Alzheimer.

Malefícios do consumo exagerado de álcool

Conforme a revisão apresentada pelos profissionais da Universidade do Oeste de Santa Catarina em 2018, sobre os benefícios e malefícios da ingestão de vinho, o vinho consiste numa bebida alcoólica, e, apesar de apresentar inúmeros benefícios à saúde, o seu consumo exacerbado está relacionado a diversas patologias comuns para qualquer bebida de álcool.

Um padrão exagerado de consumo é associado a mecanismos fisiopatológicos que aumentam o risco de morte súbita cardíaca, hipertensão, fibrilação atrial ou ventricular e cardiomiopatia, ou seja, o consumo excessivo de álcool parece neutralizar os efeitos protetores cardiovasculares da ingestão moderada.

Entre outros malefícios apresentados no artigo associados ao consumo excessivo de álcool, ao vinho, especificamente, é atribuído ataques de enxaqueca em indivíduos suscetíveis e de provocar desagradáveis reações de intoxicação etanólica, desidratação no organismo e vasodilatação periférica, responsável pela cefaleia, além de possibilitar o surgimento de respostas adversas, como rubor facial, asma, inchaço e queimação alérgica oral. A histamina contida no vinho pode induzir a tosse e sibilância com diminuição da função pulmonar em pacientes com intolerância à histamina.

Ainda sobre questões relacionadas ao excesso de consumo, e especialmente ao vinho, em pesquisas com o vinho tinto foram detectados níveis perigosos ao organismo de cromo, chumbo, níquel, vanádio e zinco. Existem, também, muitos relatos de outros contaminantes nos vinhos que igualmente apresentam riscos potenciais para a saúde, incluindo resíduos de pesticidas e fungicidas, ácido acético, bactérias, fungos e microtoxinas.


Leia também:


Qual será o consumo ideal?

Você com certeza já ouviu e leu inúmeras vezes a expressão “beba com moderação”, que obviamente significa não beber em excesso, pois como vimos mais acima, o consumo exagerado de álcool pode levar a vários problemas de saúde.

Em relação ao consumo de vinho, pensando na quantidade para se alcançar os possíveis benefícios que essa bebida pode proporcionar a nossa saúde, é praticamente consenso entre pesquisas e publicações que, se tratando de consumo diário, o ideal é entre 100 e 150 ml para mulheres, e entre 200 e 300 ml para homens, o que seria mais ou menos uma dose para as mulheres e duas doses para os homens, usando como referência uma taça ISO, aquelas que são utilizadas para degustação.

Ao ler a informação acima talvez você tenha se perguntado por que os homens podem beber mais do que as mulheres e, na verdade, há uma razão científica para isso: os homens têm mais enzimas necessárias para metabolizar o álcool do que as mulheres.

Novas recomendações para os Americanos

Conforme relatório divulgado em 2020 por um comitê de especialistas do Dietary Guidelines for Americans (Diretrizes Alimentares dos Estados Unidos para Americanos), não há evidências adequadas para apoiar as diferentes recomendações de álcool para homens e mulheres, e que a pesquisa apoia a redução do limite para homens, sugerindo que a dose diária recomendada seja igual para ambos.

“Nenhum nível de consumo de álcool melhora a saúde”

De acordo com um estudo publicado em 2018 pela revista científica The Lancet, não existe nível seguro de consumo de álcool. Os cientistas admitiram que beber de forma moderada pode proteger contra doenças cardíacas, mas pode aumentar o risco de desenvolver câncer e outros problemas, o que sobrepõe o benefício.

O consumo ideal é entre 100 e 150 ml para mulheres, e entre 200 e 300 ml para homens.

O mercado brasileiro de vinhos cresceu 31% em 2020

Em informações apresentadas pela Ideal Consulting, empresa de auditoria de importação e inteligência de mercado, especializada no segmento de bebidas e alimentos, a comercialização de vinhos no Brasil em 2020 cresceu 31% em relação a 2019.

A soma das vendas das vinícolas brasileiras com as importações de vinhos e espumantes totalizaram 501,1 milhões de litros em 2020, sendo que em 2019 esse número foi de 383,9 milhões, o que significa 117,2 milhões de litros a mais.

Diante desse novo resultado, o consumo per capita em 2020 medido entre os maiores de 18 anos subiu para 2,78 litros, um aumento significativo em relação aos 2,13 litros registrados em 2019, confirmando a tendência de crescimento do mercado que vem sendo registrado nos últimos anos.

Taninos podem ajudar a tratar a COVID-19?

Uma pesquisa realizada pela equipe da China Medical University (CMU), liderada pelo presidente Mien-Chie Hung, que foi publicada recentemente no American Journal of Cancer Research, revelou pela primeira vez que o ácido tânico pode inibir a protease principal do SARS-CoV-2, vírus causador da COVID-19.

Ao examinar uma série de compostos naturais encontrados em alimentos comuns e explorar se eles são eficazes na luta contra o coronavírus, se descobriu que o ácido tânico é um inibidor de alto potencial que pode lutar contra o novo coronavírus.

A equipe analisou como os compostos naturais podem ser usados ​​para inibir a atividade de enzimas que desempenham um papel fundamental na replicação dos vírus. Eles coletaram ácidos tânicos e os testaram em laboratório contra partículas de vírus, quando descobriram que a Mpro, uma proteína usada pelo SARS-CoV-2 para se replicar em células humanas, foi amplamente bloqueada pelos ácidos tânicos.

Não será bebendo vinho que pacientes com COVID-19 buscarão a cura da doença, mas pesquisas como essa podem estar no caminho certo para encontrar formas de tratamento via produção de novos medicamentos, no caso, utilizando um ingrediente encontrado no vinho.


Saiba mais:


IMAGENS:
Destaque: por vinotecarium de Pixabay
2 – Mesa com uvas, garrafa e taça de vinho: por vinotecarium de Pixabay
3 – Cachos de uvas: por marissat1330 de Pixabay
4 – Brinde com taças de vinho tinto: por skitterphoto de Pixabay
5 – Duas taças de vinho tinto em um deck: por sztrapacska74 de Pixabay

Sair da versão mobile