Você sabia que muitos suplementos disponíveis no mercado não são produzidos a partir de fontes naturais? Isso mesmo, uma quantidade enorme de produtos são sintéticos. E será que faz diferença na hora do consumo? Vamos tratar dessa questão.
Para termos uma vida mais saudável devemos manter uma alimentação equilibrada, o que significa explorarmos a pirâmide alimentar na busca por satisfazermos as necessidades nutricionais diárias do nosso organismo. Como vimos na publicação “O que é e para que serve a suplementação alimentar?”, nem sempre se consegue suprir todas as necessidades apenas com os alimentos, momento em que uma suplementação pode ser a solução. E será que faz diferença consumir suplementos naturais ou sintéticos?
Qual a diferença entre suplementos naturais e sintéticos?
Entendendo de forma bastante simples e objetiva a diferença, os suplementos naturais são obtidos de fontes de alimentos integrais, enquanto os suplementos sintéticos geralmente são produzidos artificialmente, em um processo industrial.
A grande maioria dos suplementos disponíveis no mercado é feita de forma artificial (sintética). Isso inclui vitaminas, antioxidantes, minerais, aminoácidos, entre outros. Podem ser encontrados como pílula, cápsula, comprimido, pó ou líquido e são feitos para imitar a forma como os nutrientes naturais agem em nosso corpo.
A forma de saber se um suplemento é sintético ou natural é verificando o rótulo. Os suplementos naturais geralmente listam fontes de alimentos ou são rotulados como 100% vegetais ou animais. Suplementos que listam nutrientes de forma individual, como por exemplo vitamina C, ou usam nomes químicos como ácido ascórbico, normalmente são sintéticos.
Em que essa diferença implica?
De uma forma geral é aceito e se concorda que os nutrientes sintéticos são quase idênticos quimicamente aos nutrientes encontrados na natureza. De qualquer forma, o processo de produção de nutrientes sintéticos é muito diferente da forma como as plantas e os animais os criam. Portanto, apesar de semelhante, nosso organismo pode reagir de maneira diferente aos nutrientes sintéticos.
É consenso que ainda não está claro como os nutrientes sintéticos são absorvidos e usados pelo corpo. Alguns podem ser absorvidos de forma mais fácil, mas outros não. Isso ocorre porque quando você come comida de verdade, você não está consumindo nutrientes isolados, mas sim toda uma gama complexa de vitaminas, minerais, cofatores e enzimas que permitem o uso ideal por parte do nosso organismo. Sem esse conjunto de componentes, é improvável que os nutrientes sintéticos sejam absorvidos e aproveitados pelo corpo da mesma forma que seus equivalentes naturais.
Vitamina E
Como exemplo da diferença na absorção e aproveitamento pelo corpo está a vitamina E, onde estudos mostram que a natural é absorvida de forma muito mais eficiente do que a vitamina E na forma sintética.
No rótulo de um suplemento, a vitamina E natural é listada como d-alfa tocoferol, acetato de d-alfa tocoferil ou succinato de d-alfa tocoferil. Em contraste, as formas sintéticas de vitamina E são rotuladas com um prefixo dl-.
O alfa-tocoferol é a forma mais biologicamente ativa da vitamina E e sua forma natural consiste em um isômero. Em contraste, o alfa-tocoferol sintético contém oito isômeros diferentes, dos quais apenas um (cerca de 12 por cento da molécula sintética) é idêntico à vitamina E natural. Os outros sete isômeros variam em potência de 21 por cento a 90 por cento do d-alfa natural -tocoferol.
As proteínas de ligação e transporte específicas produzidas no fígado selecionam a forma d-alfa natural da vitamina E e ignoram amplamente todas as outras formas. Em um experimento, pesquisadores japoneses administraram alternadamente vitamina E natural e sintética a sete jovens saudáveis. Foram necessários 300 mg de vitamina E sintética para igualar os níveis sanguíneos alcançados por uma dose de 100 mg de vitamina E natural.
Vitamina C
A vitamina C é provavelmente uma das primeiras que vem à mente quando alguém menciona vitaminas. Ela fortalece o sistema imunológico, atua como um antioxidante e mantém a pele mais jovem, firme e saudável.
Os seres humanos não produzem vitamina C por conta própria, dependendo dos alimentos para suprir as necessidades diárias. Conhecida pelo nome químico de ácido ascórbico, a vitamina C pode ser obtida de várias fontes alimentares, principalmente frutas e vegetais.
Nem todos podem ou conseguem obter a ingestão diária recomendada de vitamina C, em muitos casos recorrendo a suplementação. Existem suplementos orgânicos de vitamina C, mas na maioria das vezes, as pessoas recorrem a vitaminas sintéticas e multivitaminas.
Apesar de muitos fabricantes de suplementos sintéticos indicarem que seus produtos são naturais devido a tamanha semelhança, vitaminas sintéticas não são criadas da mesma forma que na natureza e não têm os mesmos compostos após a sua produção. A vitamina C sintética é criada a partir do amido de milho, usando calor, enzimas, acetona e ácido clorídrico para formar ácido ascórbico. O ácido ascórbico é encontrado em pequenas quantidades na natureza como parte de um complexo de fito nutrientes que se reúnem como vitamina C natural.
Absorção de nutrientes sintéticos
Como vimos mais acima, sem esse conjunto de componentes, é improvável que os nutrientes sintéticos sejam absorvidos e aproveitados pelo corpo da mesma forma que seus equivalentes naturais. A forma isolada e sintética do ácido ascórbico da vitamina C encontrada em alimentos fortificados, vitaminas e alimentos pasteurizados é apenas um pequeno pedaço do que seu corpo está esperando. Quando tomamos ácido ascórbico sozinho, ele força o corpo a eliminar os outros ingredientes dos tecidos e órgãos.
Estudos apontaram que conforme a dose de vitamina C sintética aumenta, a absorção diminui. Os benefícios da vitamina C também são negados pela versão sintética. O ácido ascórbico foi associado a danos ao DNA e pode, na verdade, aumentar a oxidação em vez de neutralizá-la. O ácido ascórbico também mata as bactérias benéficas nos intestinos que ajudam na digestão e combatem as infecções bacterianas mais perigosas.
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Cálcio
O cálcio dificilmente é encontrado como suplemento de origem natural, pois normalmente é derivado de rochas. É outro nutriente envolvido em polêmicas e contradições, pois estudos sugerem que o cálcio suplementar pode causar prejuízo a saúde. Assim como vimos nos casos da Vitamina E e C, estudos também indicam que o cálcio desassociado dos alimentos se torna difícil de ser processado pelo organismo.
Conforme esses estudos há pouco ou nenhum benefício em tomar suplementos de cálcio para o fortalecimento dos ossos, por outro lado, relacionaram os suplementos de cálcio a um risco aumentado na formação de pólipos no cólon (pequenos crescimentos no intestino grosso que podem se tornar cancerosos), formação de pedras nos rins, e aumento do acúmulo de cálcio nas artérias, o que poderia levar a ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC).
O corpo não consegue processar mais de 500 miligramas de cálcio por vez. Se a suplementação adotada é maior do que isso, seu corpo tem que fazer algo com o excesso. É possível que níveis mais elevados de cálcio no sangue possam desencadear coágulos sanguíneos ou que o cálcio possa ser depositado ao longo das paredes das artérias, o que contribuiria para o estreitamento dos vasos sanguíneos.
A suplementação de cálcio cresceu em popularidade nos últimos tempos, especialmente entre mulheres idosas, na esperança de prevenir fraturas e proteger contra a osteoporose. Embora a ingestão de suplementos de cálcio possa produzir efeitos colaterais indesejados, é seguro atender às necessidades diárias de cálcio por meio da dieta, pois o cálcio quando ingerido em pequenas quantidades, distribuídas ao longo do dia junto com outras fontes de alimentos, fica mais fácil de ser absorvido.
Se existe a preocupação de manter os ossos saudáveis, o ideal é obter cálcio de fontes alimentares naturais como:
- Peixe enlatado com osso (por exemplo, sardinha, salmão, etc.)
- Folhas verdes escuras (como couve manteiga e espinafre)
- Laranjas
- Sementes (especialmente papoula e gergelim)
- Amêndoas
- Figos secos
- Soja
- Feijão
- Laticínios com baixo teor de gordura, como leite e iogurte
A recomendação dietética de cálcio para homens e mulheres adultos é de 1.000 mg – ou aproximadamente três porções de laticínios ou peixe com osso por dia. Mulheres grávidas e lactantes e adultos com 70 anos ou mais precisam de 1.200 mg por dia.
Outra forma de manter os ossos saudáveis é manter-se ativo. Exercitar-se regularmente protege a saúde óssea. Os exercícios de musculação, caminhada, corrida, são exemplos especialmente úteis na prevenção da perda óssea.
Existem outros minerais além do cálcio envolvidos no apoio à saúde óssea, como sílica e magnésio. A formação de ossos saudáveis também depende da vitamina D e da vitamina K2, que regulam o metabolismo do cálcio. Se você tem níveis adequados desses nutrientes e realiza regularmente exercícios como os citados acima, não há necessidade de suplementação de cálcio, que provavelmente fará mais mal do que bem.
Então, faz diferença consumir suplementos naturais ou sintéticos?
Como vimos nessa publicação, estudos mostram que os nutrientes sintéticos não substituem uma dieta saudável e balanceada, e ainda podem causar riscos à saúde se consumidos de forma exagerada e equivocada. Obter nutrientes naturais de alimentos integrais é sempre uma opção mais confiável e segura.
De qualquer forma, se existe uma carência importante de um nutriente específico, tomar um suplemento pode ser benéfico, desde que recomendado e acompanhado por um médico.
Outra atitude importante é se informar sobre os produtos. Ficar atento a descrição dos rótulos se mostra primordial, assim como verificar se todos os ingredientes utilizados são autorizados pela ANVISA.
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Imagem 2 (cápsulas saindo de um frasco): por Monfocus de Pixabay